“Se precisar, peça ajuda”: Setembro Amarelo reforça a importância de ações de valorização da vida

“Se precisar, peça ajuda”: Setembro Amarelo reforça a importância de ações de valorização da vida

Foto: Nathália Schneider (Diário)

Santa Maria possui um posto do Centro de Valorização da Vida (CVV), que também atende 24 horas pela linha telefônica 188

Em 1994, Mike, um jovem de 17 anos dos Estados Unidos, tirou a própria vida em seu carro, um Mustang amarelo. Os amigos e familiares distribuíram cartões com fitas amarelas no funeral dele com mensagens de apoio para pessoas que estivessem enfrentando o mesmo desespero de Mike. A mensagem se espalhou mundo afora. Desde então, a cor inspira campanhas de valorização da vida como o já consolidado Setembro Amarelo no Brasil.


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A iniciativa do Centro de Valorização da Vida (CVV), do Conselho Federal de Medicina (CFM) e da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) ocorre no país desde 2013. Setembro foi escolhido pois o dia 10 do mês é dedicado a ações mundiais de conscientização e prevenção ao suicídio. Em 2023, o lema da campanha é “Se precisar, peça ajuda!”.


Trata-se de um fenômeno complexo, que pode afetar indivíduos de diferentes origens, sexos, culturas, classes sociais e idades. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, por ano, mais de 700 mil pessoas tirem a própria vida em todo o mundo. Segundo a organização, o número pode chegar a 1 milhão se forem considerados os casos não registrados. No Brasil, são aproximadamente 14 mil suicídios todos os anos — uma média de 38 pessoas por dia.


Embora os números estejam diminuindo em todo o mundo, como nos países da Europa, por exemplo, estudos recentes observaram um aumento das taxas de suicídio em países de média e baixa renda, especialmente nas regiões do Leste Asiático, da América Central e da América do Sul. Portanto, falar sobre o tema é cada vez mais importante.


Precisamos orientar para conscientizar e prevenir. No mês de setembro concentramos os nossos esforços e vamos para a prevenção efetiva do suicídio. A morte por suicídio é uma emergência médica e pode ser evitada através do tratamento adequado do transtorno mental de base – afirma o presidente da ABP, Dr. Antônio Geraldo da Silva.



Foto: Nathália Schneider (Diário)

VALORIZAR A VIDA

Em conversa com a jornalista Fabiana Sparremberger no programa Faz Sentido, da TV Diário e da Rádio CDN 93.5 FM, a psicóloga Suséli Santos e Amilton Passos, porta-voz do Centro de Valorização da Vida (CVV) de Santa Maria, falaram sobre o tema.


– Existe muito a questão do julgamento, o que faz com que, muitas vezes, a pessoa se aproxime ainda mais do episódio. Mas segundo os dados, quando ela está em crise aguda, com tudo preparado, antes disso ela liga para o CVV, por exemplo. E é em um minuto valioso que nós recuperamos e conseguimos trazer aquela vida de volta. Porque aquela emoção do momento de desespero vai ser trabalhada em uma fala com outra pessoa, que está lá justamente para acolhê-la, sem julgamentos – diz Suséli Santos.


O CVV existe desde 1962 no Brasil. A linha telefônica, que atende pelo número 188, começou a funcionar no Rio Grande do Sul e, posteriormente, espalhou-se por todo o país. O principal objetivo da instituição é prestar um serviço, gratuito e voluntário, de apoio emocional e de prevenção do suicídio para quem quer e precisa conversar, sob total sigilo e anonimato.  


Segundo Amilton Passos, por ano, são realizados cerca de 3 milhões de atendimentos pelo CVV. Atualmente, a instituição tem mais de 3.500 voluntários atuando em todo o país. O centro funciona 24 horas por dia e a ligação não tem custo. Online, o CVV faz atendimentos via chat ou e-mail diretamente no site (www.cvv.org.br/).


Também é possível receber auxílio presencialmente em algum dos 120 postos espalhados pelo país. Em Santa Maria, o CVV está localizado na Rua Pedro Pereira, 1.450, anexo à Rodoviária, no Bairro Nossa Senhora de Lourdes.


Foto: Marcelo Oliveira (Arquivo Diário)


O porta-voz do CVV de Santa Maria também destaca o serviço do Grupo de Apoio aos Sobreviventes de Suicídio, o GASS, que começa na primeira semana de outubro na cidade.


– É importante atentar para as sequelas físicas e emocionais dos sobreviventes. A cada 45 minutos ocorre um suicídio no Brasil. São, em média, 20 tentativas, o que gera 200 pessoas próximas que estão sofrendo. Então nós iremos reunir essas pessoas, conversar sobre  o que estão sentindo e criar esse diálogo. Também temos o projeto Malas Prontas, em que voluntários se dirigem a locais de tragédias e desastres naturais, como foi o caso de Brumadinho. Ficamos 101 dias lá e agora uma turma aqui de Santa Maria já está se deslocando para atender no Estado as cidades que foram atingidas no Vale do Taquari – explica Amilton Passos.


ESCUTA SEM JULGAMENTO

Os profissionais de saúde apontam que, em boa parte das vezes, os casos de suicídio estão relacionados a algum transtorno mental, em sua maioria não diagnosticado ou não tratado corretamente. A depressão é o transtorno mais ligado às ocorrências de suicídio.


De acordo com os profissionais, a pessoa pode dar alguns sinais de que está precisando de ajuda e os familiares e amigos devem ficar atentos às mudanças drásticas de personalidade e comportamento, porque a maioria dos sinais são não-verbais.


– O homem começa a deixar a barba crescer, por exemplo. Percebemos uma tristeza no olhar, a voz mais baixa, desleixo com a vestimenta e aparência, a pessoa não ouve mais músicas ou passa a ouvir coisas depressivas. Quando verbalizar, a pessoa vai usar muito a palavra “cansaço”, dizendo que está cansada da vida, por exemplo – explica Amilton Passos.


Suséli Santos, que é psicóloga cognitivo-comportamental, reforça que se a pessoa que tentou tirar a própria vida não tiver um acompanhamento e acolhimento adequados, dependendo de qual fator principal potencializou esse desejo, ela vai tentar o suicídio novamente:


–  Sem cuidados e fragilizada emocional e psicologicamente, essa pessoa vai tentar novamente. Mas se ela for acolhida e ter um tratamento adequado, com profissionais de saúde mental, muito possivelmente, nós conseguimos fazer com que essa pessoa viva muito mais tempo e até mesmo volte a ter o desejo de viver.


Foto: Nathália Schneider (Diário)


Amilton afirma que existe, sim, uma nova possibilidade por meio do trabalho voluntário do Centro de Valorização da Vida (CVV). E assim como eles recebem ligações pedindo ajuda, recebem os recados de gratidão e reconhecimento.


– Nós ficamos muito gratos quando recebemos uma ligação dizendo “bom dia, muito obrigado”; “O CVV é a minha família."; Venci mais um dia. Acordei e vou trabalhar”. E esse tipo de telefonema é muito comum de todos os públicos: pessoas de idade, de jovens. Nos emocionamos muito – conta Amilton.


Uma cartilha do Ministério da Saúde aponta o que não se deve fazer a fim de prevenir o suicídio: condenar e julgar; banalizar frases e sentimentos; opinar; dizer que isso é “falta de Deus ou de vergonha”. Sermões e frases de incentivo vazias como: “levante a cabeça” e “pense positivo”, também não ajudam. Segundo os profissionais, o melhor caminho é o encaminhamento ao serviço médico, atenção a possíveis sinais e, sobretudo, acolhimento:


– Vamos validar as palavras dos outros e cuidar as nossas. É melhor dizer: “Eu te entendo. você gostaria de conversar comigo sobre isso?, No que que eu posso te ajudar?” E aí entrar na conversa da pessoa, olho no olho. Não adianta querer mostrar o que ele tem de bom para sair disso, porque naquele momento ele não vê nada de bom. Nós temos que acender uma luzinha lá dentro da pessoa e isso só conseguimos ouvindo a pessoa e se colocando à disposição ali do lado. Não custa nada – finaliza a psicóloga Suséli Santos. 



EM SANTA MARIA

Além do Centro de Valorização da Vida (CVV), Santa Maria possui uma Rede de Atenção Psicossocial (Raps) composta pelos serviços de saúde que integram o SUS, nos variados níveis de complexidade, da atenção básica à alta complexidade. ​

Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps)
são serviços de saúde de porta aberta e comunitários, voltados aos atendimentos de pessoas com sofrimento psíquico ou transtorno mental, incluindo aquelas com necessidades decorrentes do uso de álcool, crack e outras substâncias, que se encontram em situações de crise ou em processos de reabilitação psicossocial. Os Caps de Santa Maria são quatro: Caps II Prado Veppo, Caps ad II Caminhos do Sol, Caps ad II Cia do Recomeço e Caps i II - O Equilibrista

Conforme a prefeitura, a Equipe Multiprofissional de Atenção Especializada em Saúde Mental (Ament) é parte da Raps, constituindo estratégia para atenção específica e integral às pessoas com transtorno mental moderado e tem como objetivo ofertar maior efetividade no tratamento de base comunitária em saúde mental.


Esta equipe acolhe, por demanda espontânea, usuários a partir de 12 anos sem vinculação prévia com outro serviço especializado da Raps, em crise emocional aguda e com relação direta e recente com quadros de trauma, luto, Covid-19 e ao contexto suicida (entende-se por contexto suicida: ideação, tentativa ou pensamento). O encaminhamento é feito pelas Unidades de Saúde e Pronto-Atendimentos, após avaliação das equipes em consonância com a demanda.


A Ament atua no Santa Maria Acolhe, um serviço de acolhimento a casos de crise subjetiva relacionados a comportamentos suicida, e que também permanece como referência em saúde mental para casos relacionados à tragédia da boate Kiss. Uma vez que o atendimento ocorre por demanda espontânea, não há fila de espera.


O Ambulatório Transcender também é uma referência específica para a população LGBT+ de Santa Maria, para esclarecimentos, acompanhamento e encaminhamentos no âmbito individual, familiar, social e comunitário. Fica na Rua dos Andradas, 1.397, Centro.


No âmbito da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Faculdade Integrada de Santa Maria (Fisma) e Universidade Franciscana (UFN) a demanda é atendida por acadêmicos do curso de Psicologia, com a orientação dos professores.

Santa Maria Acolhe

  • Público – Crianças a partir de 12 anos, adolescentes, adultos e idosos
  • Quanto – De graça
  • Onde – Rua Conrado Hoffman, n° 277, Bairro Nossa Senhora de Lourdes
  • Horários – segunda-feira a sexta-feira, das 8h às 12h e 13h às 17h (com exceção da quarta-feira, que é destinada para reunião de equipe)
  • Agendamento – Pelo telefone (55) 3174-1582 ou  e-mail [email protected].


COMO PEDIR AJUDA AO CVV

  • Telefone – número 188
  • Online – pelo site (www.cvv.org.br/)
  • Presencial – em postos de atendimento
  • Posto do CVV em Santa Maria – Rua Pedro Pereira, 1.450, anexo à Rodoviária, no Bairro Nossa Senhora de Lourdes


Clínica de Psicologia da UFN

  • Público – Crianças a partir dos 4 anos, adolescentes, adultos e idosos
  • Quanto – R$ 10
  • Onde – Sala 313, 3º andar, prédio 17 da UFN (Rua dos Andradas, 1.250, Centro)
  • Agendamento – Pelo telefone (55) 3025-9077


Clínica de Estudos e Intervenções em Psicologia (CEIP) da UFSM


 Clínica-Escola do curso de Psicologia da FISMA

  • Público – Crianças, adolescentes, adultos e idosos
  • Quanto – De graça
  • Onde – Unidade I da FISMA (5º andar da Policlínica Wilson Aita, junto ao Hospital de Caridade Astrogildo de Azevedo)
  • Agendamento – Presencial



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